Bolsonaro calibra discurso para sua ‘bolha’, apostando na melhora da economia para se reeleger 3n6e18
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Diálogo civilizado fica cada vez mais complicado porque as lideranças políticas ficam reféns da pancadaria ideológica e não conseguem formular um projeto estratégico de nação

A extrema imprensa ideologizada promove uma espécie de fetichismo do ódio. O noticiário e seus editoriais fomentam, irresponsavelmente, a guerra entre os indivíduos e os detentores dos poderes para produzir um conflito psicologicamente desejado. O espetáculo dantesco rende audiência e engajamento, com a aposta na tese de que “a massa adora a treta” (conflitos pessoais agressivos e histéricos). Só que a consequência dessa pancadaria incessante no mundo real é o agravamento da divisão artificial e polarizada das pessoas e dos grupos, na sociedade. Vivemos uma esquizofrenia cultural e psicossocial. Essa violência psicológica midiática ultraa o mundo virtual da comunicação e se converte em violência, no discurso e na realidade física do dia-a-dia. O fenômeno grave é que o discurso midiático fascista, incentivando acirramento, nos coloca em uma prisão psicológica. Pior ainda: A narrativa fascistóide, muitas vezes disfarçada de pretensa isenção e falsa neutralidade, gera as pré-condições para uma guerra civil que pode eclodir a qualquer momento. No curto prazo, tudo parece “treta”. O prejuízo maior, no médio e longo prazos, é que inviabiliza a união entre os cidadãos, fator imprescindível para a liberdade, estabilidade e prosperidade de uma nação.
Todas as pessoas de bem querem que o quadro negativo se reverta, que se deixe o Presidente da República trabalhar. Mas ninguém sabe como isso pode proceder. Tudo é muito diferente do personalismo de 1964, que hoje pode não ter a mesma aplicação, porque o mundo mudou bastante. Embora tenhamos Forças Armadas comprometidas com valores corretos, legalistas, os militares não querem ar pelo que enfrentaram entre o pré-1964 e 1985. O raciocínio predominante na caserna é: há 33 anos em vigor, a Constituição de 88 é inadequada à gestão do país. Mas tem de ser obedecida, enquanto estiver vigorando. Assim que houver condições, o ideal é propor, debater exaustivamente e aprovar uma nova. Vale discutir “A Libertadora” – proposta de nova Carta elaborada por um grupo de livres-pensadores sob coordenação do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança.
Antecipadamente, temos um problema. Não tivemos tempo ainda de consolidar uma cultura nacional, definindo bem o nosso ethos. Esse processo é dificultado pela influência das ideologias que têm atrapalhado a formação cultural do nosso povo. Precisamos definir um rumo objetivo, que a maioria entenda facilmente, se mobilize e coloque em prática. Cabe muito bem ao momento brasileiro a bandeira da recuperação dos costumes, da valorização da honestidade, do trabalho, da produção, da humanização das relações, da ordem e da disciplina. Em suma, ou da hora de formularmos e debatermos um projeto estratégico de nação. Acontece que isso, novamente, corre o risco de ser postergado.
Mergulhamos, prematura e precocemente, em uma campanha eleitoral – talvez a que promete ser a mais polarizada e radicalizada da história. O diálogo civilizado corre perigo. A governabilidade segue ameaçada, com reeleição ou não de Jair Bolsonaro. A oposição só ataca o governo. Não apresenta proposta alternativa viável – que não seja o caos da má gestão e corrupção dos governos anteriores. Essa postura politicamente imatura e destrutiva só beneficia Bolsonaro, que já está no poder e apenas calibra o discurso mais eficaz para agradar seu eleitorado fiel. Se a economia melhorar, a reeleição fica mais fácil. Os adversários de Bolsonaro só vencem se o caos econômico tomar conta do cenário.
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